
Introdução
Na região semi-árida do Nordeste brasileiro, as fontes de renda das quais os pequenos agricultores dependem para sua sobrevivência, são bastantes frágeis e fundamentadas, principalmente, no extrativismo vegetal. Entre as plantas que proporcionam esta atividade, o imbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) é a que mais se destaca.
Mendes (1990) apresenta diversas formas de aproveitamento do imbu (suco, doce, imbuzada, licor, xarope etc.). O que demonstra a grande capacidade que esta planta tem para contribuir com o desenvolvimento da região, de forma especial, com a sua industrialização caseira.
Contudo, em algumas comunidades os agricultores retiram os xilopódios das plantas adultas para produção de doce em massa. Essa atividade, embora tradicional em todo o Nordeste, pode esta causando danos irreparáveis à população de imbuzeiros na região.
Os xilopódios são órgão de reserva do sistema radicular que armazenam água e substâncias nutritivas que são utilizados pelas plantas nos períodos de estiagem.
Nas plantas jovens, aos 30 dias de idade a raiz principal atinge um comprimento em torno de 12 cm e um diâmetro na porção tuberculada de 20 mm (Lima, 1994). A partir desta fase, o xilopódio já pode ser utilizado para o processamento de doce em massa, tornando-se assim, mais uma alternativa de aproveitamento do imbuzeiro, contribuindo para sua preservação e para melhoria das condições de vida dos agricultores, através da renda obtida com esta atividade.
Este trabalho teve como objetivo buscar alternativas para exploração racional do imbuzeiro, visando a obtenção de xilopódios provenientes de plantas jovens, evitando-se, assim, danos às plantas adultas.
Material e Métodos
Foram plantadas sementes de imbu colhidas em chiqueiros e apriscos da região, com substrato de areia lavada, em casa de vegetação da Embrapa Semi-Árido em Petrolina, PE no período de janeiro a dezembro de 2004.
O plantio foi realizado em canteiros com até 3 metros de comprimento por 1 metro de largura, com profundidade de 40 cm, com substrato formado por solo da superfície e areia grossa lavada, em proporções volumétricas de 1:1. As sementes foram semeadas numa proporção de, aproximadamente, 120 sementes por m² com uma cobertura de 2,5 a 3,0 cm de areia. Os canteiros foram irrigados três vezes por semana até o início da germinação, após esse período a irrigação foi uma vez por semana até a colheita.
Quando as plantas completaram 180 dias de crescimento, foram retirados os xilopódios para produção de doce em massa. Após a colheita, os xilopódio foram lavados em água corrente e sanitizados, em uma solução de uma colher de sopa de água sanitária para cada litro de água, por 30 minutos. Após a retirada da casca do xilopódio, este foi passado em um ralo para trituração. Posteriormente, foi espremida a massa para retirada do excesso de água. No preparo do doce foram utilizados os seguintes ingredientes: 1 kg de massa de xilopódio adicionado a 750 g de açúcar. Misturou-se o açúcar à massa, antes de levá-lo ao fogo, mexendo-se sempre, até a mesma atingir o ponto de uma massa mais consistente que permitiu o corte. Para atingir esse ponto a mistura permaneceu ao fogo por aproximadamente 35 a 40 minutos de cozimento.
A análise sensorial do doce foi realizada através de testes de degustação, utilizando-se uma escala Hedônica proposta por Moraes (1985) com os seguintes atributos: 1- "desgostei muitíssimo", 2- "desgostei muito", 3- "desgostei regularmente", 4- "desgostei ligeiramente", 5- "indiferente", 6- "gostei ligeiramente", 7- "gostei regularmente", 8- "gostei muito" e 9- "gostei muitíssimo".
Resultados e Discussão
Nas plantas de imbuzeiro, aos 180 dias após o plantio, o xilopódio atinge um comprimento em torno de 28 cm e um diâmetro, na porção tuberculada, de 6,5 cm e peso médio de 250 g. Nesta etapa de crescimento, o xilopódio do imbuzeiro apresenta as melhores características para o processamento de doce em massa.
Quanto a preferência dos provadores, em termos de aparência, sabor e textura do doce de xilopódio, observou-se que 60,65% dos provadores indicaram o atributo "gostei muito" para à aparência e 65,68% provadores indicaram o atributo " gostei muitíssimo" para o sabor. Quanto a textura, a maioria dos provadores 59,62% indicaram o atributo gostei regularmente".
Conclusões
A análise sensorial do doce em massa processado com xilopódio do imbuzeiro obtido de plantas aos 180 dias de crescimento, indicou que o doce do xilopódio nesta fase de desenvolvimento da planta pode substituir o xilopódio de plantas adultas, evitando-se danos em sua retirada.
Referências Bibliográficas
LIMA, R. S. Estudo Morfo-anatômico do sistema radicular de cinco espécies arbóreas de uma área de Caatinga do município de Alagoinha-PE. Recife, UFRPE, 1994. 103 p. (Tese Mestrado).
MENDES, B. V. Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.): importante fruteira do semi-árido. Mossoró. ESAM, 1990. 66p. il. (ESAM. Coleção Mossoroense, Série C - v. 554).
MORAES, M. A. C. Métodos para avaliação sensorial dos alimentos. 5. Ed. Campinas:UNICAMP, 1985. 89p.
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